Perigos dos Pesticidas

Não há bela sem senão, e os pesticidas são disso um bom exemplo. Quando os utilizamos para eliminar traças ou outras pragas de nossa casa, estamos, com esse procedimento, a trazer para o nosso ambiente substâncias que podem representar um perigo para a saúde muito depois de terem desempenhado a sua tarefa. Queremos que os nossos filhos comam muita fruta e legumes, mas não resíduos de pesticidas.

Não é segredo para ninguém que a exposição aos pesticidas pode ser nociva. Uma exposição prolongada a altos níveis destes produtos tem sido associada a doenças neurológicas, ao cancro, a alterações do sistema imunitário, a desequilíbrios hormonais e, nas crianças, a problemas de desenvolvimento. Felizmente, a maioria das pessoas está exposta a níveis muito baixos de pesticidas, e há formas de limitar ainda mais a quantidade de pesticidas na fruta, no ar e na água. Uma das primeiras medidas a tomar é saber que tipo de praga é preciso eliminar para escolher o pesticida apropriado, evitando deste modo os produtos de largo espectro, que representam um risco acrescido.

Os responsáveis na área da saúde recomendam que se comam entre 5 e 10 peças de fruta e vegetais por dia. No entanto, alguns especialistas calculam que metade da fruta e dos legumes que ingerimos contém resíduos de pesticidas, e cerca de 40% contêm resíduos de mais do que um pesticida. Devemos por isso comer menos produtos hortícolas? Não. Centenas de estudos têm demonstrado que comer mais fruta e legumes baixa significativamente o risco de cancro. E embora a fruta e os legumes possam conter resíduos de pesticidas, a maioria está bem abaixo dos limites máximos fixados pela Direcção-Geral de Protecção das Culturas (DGPC).

Mesmo assim, muitas pessoas gostariam de reduzir a sua exposição aos resíduos de pesticidas ainda mais. Como?

O primeiro passo é comer uma grande varie-dade de alimentos, de forma a limitar a exposição a um determinado pesticida. Um outro poderia ser comprar e comer produtos biológicos certificados, cultivados sem pesticidas sintéticos. Uma terceira hipótese de reduzir a exposição aos resíduos dos pesticidas é comer produtos nacionais e sazonais, os quais — mesmo que não sejam biológicos — contêm normalmente menos resíduos do que os produtos importados fora da estação.

A carne que comemos também contém pesticidas. O gado ingere-os nas suas rações, e os peixes podem também conter pesticidas de descargas agrícolas e industriais nas águas que habitam. Uma vez que muitos pesticidas se acumulam nas células adiposas, uma maneira de os evitar é optar por carne magra, escolhendo apenas carne, peixe e lacticínios com baixo teor de gordura. E evitar o fígado, onde também se acumulam os pesticidas.

Descascar ou não descascar a fruta?

Descascar a fruta e os legumes permite em muitos casos eliminar a maior parte dos resíduos dos pesticidas de contacto. Mas os pesticidas sistémicos entram para o interior da planta e de pouco serve descascar. O problema é que a maior parte da fibra natural dos ali­mentos e grande parte da vitaminas e mi­nerais se encontram na casca comestível ou à volta. Por isso, a não ser que a pele esteja en­cerada, pode ser melhor conservá-la. (Descasque sempre os produtos encerados. A cera é inofensi­va, mas absorve os pesticidas.) Retire as folhas exteriores da alface e das couves, onde se encon­tra a maior parte dos resíduos. Alguma fruta, co­mo bananas, laranjas e melões, é sempre descas­cada, por isso não é provável que ingira muitos pesticidas através dela, salvo os sistémicos.

Lavar a fruta e os legumes, esfregando-os bem, ajuda a eliminar os pesticidas, em parti­cular se lavar em água corrente com bastante energia. Contudo, alguns produtos sem folhas nem cascas exteriores (como os morangos, cogu­melos e espinafes, que, além disso, se desfariam se lavados com muita força) absorvem pesticidas a nível celular, por isso lavá-los não ajuda muito. É quanto a estes que vale a pena a opção biológica.

Alguns pesticidas chegam com o jantar, mas outros trazemos voluntariamente para dentro de casa. Alguns aerossóis libertam compostos voláteis que podem causar dores de cabeça, ir­ritação dos olhos e sensação de constrição no peito em pessoas que entram em casa antes de terem passado 24 horas. Se os seus armários fo­rem tratados por um técnico de desinfestação, deixe-os abertos durante 24 horas e areje o quarto. Os aerossóis vendidos nas lojas são me­nos fortes do que os usados por profissionais, mas, por outro lado, são por vezes aplicados de forma menos correcta e, por isso, menos segura.

Os aerossóis dirigidos deixam menos resí­duos de pesticidas do que as «bombas» contra insectos, que espalham os resíduos pela sala ou pela casa. Uma exposição excessiva aos clorpiri­fos, um pesticida presente nos produtos domés­ticos mais utilizados, pode causar dores de cabe­ça, tonturas, espasmos musculares, vómitos e vi­são enevoada. O pesticida pode também agarrar­-se a brinquedos de plástico ou de espuma, por isso retire-os de qualquer área a ser pulverizada.

Os pesticidas da relva também são um risco se não forem devidamente usados. Leia sempre os rótulos e siga fielmente as instruções. Use rou­pas de protecção e não pulverize em dias vento­sos. Afaste as crianças e os animais de estimação do relvado até os pesticidas terem assente ou se­cado. Se o seu relvado for tratado por uma empresa especializada, mantenha as crianças e os animais de estimação fora da relva durante pelo menos 24 horas ou até o relvado ter sido regado.

As descargas de pesticidas são um problema grave, pois podem drenar para os aquíferos e contaminar a água potável. Se necessário, peça informações aos serviços públicos responsáveis.

Mantenha o seu jardim livre de pestecidas

Aqui se indicam alguns truques que lhe permitem manter o seu jardim livre das pragas sem utilizar pesticidas.

  • Retire os insectos (sobretudo os afídios, ou piolhos das rosas) com um forte jacto ou pulverização de água.
  • Elimine os caracóis com pequenos pratos de cerveja. Os caracóis são atraídos pela cerveja, na qual depois se afogam.
  • Use insecticidas biológicos como BT (Bacillus thuringiensis). São de actuação mais lenta, mas são eficazes e não contêm produtos químicos. Além disso, são fáceis de usar em pulverização.
  • Crie barreiras físicas colocando coberturas de plástico transparente por cima das linhas do jardim, barreiras (água, cola ou outras) em volta dos viveiros para evitar as lagartas e outras pragas, Pode até cobrir com pés de collants as plantinhas recém-nascidas.